sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Nascimento último



by Gilles le Bihan

Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.

António Ramos Rosa

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Tango Quattro



Tema:Oblivión

Site oficial

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A troca




Heartbreaking. Absolutamente. Excelente, a realização de Clint Eastwood e a fotografia entre a cor e o preto e branco, criando uma ambiente am sintonia com a história. Na senda dos filmes que nos "dão a volta" por dentro, seja pela violência, pela injustiça ou pela nossa sensação de impotência. Talvez também por ser uma história verdadeira. Pela primeira vez vi em Angelina Jolie algo mais que uma boneca. Consegue uma interpretação que talvez lhe dê o prémio por que todos os actores anseiam. Junto dela, John Malkovich, de quem tudo já foi dito, tantas vezes. A não perder, a não ser por quem se impressiona facilmente.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Cantos de uma paisagem antiga (VI)



by Graça Loureiro

Na paisagem, de madrugada...

Entrei na paisagem pela madrugada
Corri nos caminhos saudosos de ti
Riachos gelados beijaram-me os pés
Deitei-me na terra sentindo o odor
Que a natureza me disse ser teu
Chamei-te em silêncio pelas veredas
Sonhei-te os passos lentos de outrora
Senti-te em mim nas horas de sempre
No sol das manhãs e na bruma da tarde
Soube que virás num dia nostálgico
Quando a terra disser que estás a chegar.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Who by fire



It´s the man, himself... Leonard Cohen

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Antes o voo




by Artur K.

Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

Alberto Caeiro

domingo, 18 de janeiro de 2009

As quatro ignorâncias do amante



Quatro ignorâncias podem concorrer em um amante, que diminuam muito a perfeição e merecimento de seu amor. Ou porque não se conhecesse a si: ou porque não conhecesse a quem amava: ou porque não conhecesse o amor: ou porque não conhecesse o fim onde há-de parar, amando. Se não se conhecesse a si, talvez empregaria o seu pensamento onde o não havia de pôr, se se conhecera. Se não conhecesse a quem amava, talvez quereria com grandes finezas a quem havia de aborrecer, se o não ignorara. Se não conhecesse o amor, talvez se empenharia cegamente no que não havia de empreender, se o soubera. Se não conhecesse o fim em que havia de parar, amando, talvez chegaria a padecer os danos a que não havia de chegar se os previra.

Padre António Vieira, in "Sermões"

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

doença



by wkg

eu também padeci dessa doença.
também chamei médicos a desoras.
também tomei os chás de vários pregadores.
andei de feira em feira à cata de bruxos.
dei as minhas mãos em várias leituras .
também me leram cartas .
Os magos me fartaram.
e no entanto nunca fiquei curada.
não curada deles
seus remédios e cartas.

Foi há tempos longos.
eu nem sei se me era
tanto andar andou.
Hoje
nem doença, nem nada.
curei-me.
sabes como?!
curei-me de cansada.

mcorreia

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Lisa Ekdahl



Som: Daybreak

Uma doçura sueca...

sábado, 10 de janeiro de 2009

Cantos de uma paisagem antiga (V)



Foto by Izabel

Não te direi

Não te direi nunca:
lembras-te?
Nem te levarei pelos campos
a olhar o mar,
espelho de interrogações futuras.
Não olharei nos teus olhos
a minha imagem
mulher de qualquer idade.
Sou em ti um cristal
vibrando neste dia e nesta hora,
um corpo de líquidos desejos,
pedaço de alma que se entrega
em cada troca de beijos.
Direi: amor, amor
quando em meus braços te aperto
e ficarei (sempre)
gravada em teu olhar aberto.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Eu te amo



Piano: Tom Jobim
Cantam: Chico Buarque e Telma Costa

Como ele era novinho! Foi assim que o vi numa memorável Festa do Avante...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Príncipe



by Murat Harmanliki


Príncipe:
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.

São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me

Ana Hatherly, in "Um Calculador de Improbabilidades"

domingo, 4 de janeiro de 2009

La Nouba



Novamente, o Cirque du Soleil. Talvez porque hoje é domingo e o sol quer espreitar lá fora...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

o vermelho e o trigo...




No fundo da terra há sempre
Um húmus insuspeito, uma semente, uma promessa...

Talvez um parto...

Talvez um grito,
Ou uma dor por abrir...

Talvez uma tensão na hora de soltar-se...

Há sempre na noite
Um dia imprevisível, uma esperança calada...

Há sempre uma morte que se faz vida...

Há sempre o vermelho e o trigo...

Sabe-se lá quando pode explodir uma flor...



quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

New Year's Day




All is quiet on New Year's Day.
A world in white gets underway.
I want to be with you, be with you night and day.
Nothing changes on New Year's Day.
On New Year's Day.

I... will be with you again.
I... will be with you again.

Under a blood-red sky
A crowd has gathered in black and white
Arms entwined, the chosen few
The newspaper says, says
Say it's true, it's true...
And we can break through
Though torn in two
We can be one.

I... I will begin again
I... I will begin again.

Oh, oh. Oh, oh. Oh, oh.
Oh, maybe the time is right.
Oh, maybe tonight.
I will be with you again.
I will be with you again.

And so we are told this is the golden age
And gold is the reason for the wars we wage
Though I want to be with you
Be with you night and day
Nothing changes
On New Year's Day
On New Year's Day
On New Year's Day


U2


Feliz 2009!