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quinta-feira, 26 de março de 2009

nada digas




Fala-me da dignidade
de se ser maior
-; do amor -
de se ser gente que quer ser
melhor
- que o amor -
da idade sem idade de amar
- o amor -
inferior
condição; se for ser-se indolor
- ao amor -.
Fala-me do amor
- superior -
de se ser gente que quer ser
digna
- maior -.

Meu amor
nada digas de amor
- é melhor -.





sábado, 14 de fevereiro de 2009

A nossa casa é um lugar ao vento



by Donnie Mackay


A nossa casa é um lugar ao vento, mas buscamos
o absoluto, a bárbara verdade duma onda sobre a praia.

Tudo nos pertence porque guardamos na memória
os restos do apego às coisas que tivemos, os gestos
de gratidão que vimos no coração dos dias violentos.

Esta época não é a nossa. Subverte os conceitos
do ânimo, os desígnios legítimos de plenitude.

Mas por isso ainda somos a centelha que arde devagar
na paisagem estreita de árvores estóicas, em momentos
de tempestade, na consciência das opções sublevadas.

Vieira Calado, in Transparências

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

doença



by wkg

eu também padeci dessa doença.
também chamei médicos a desoras.
também tomei os chás de vários pregadores.
andei de feira em feira à cata de bruxos.
dei as minhas mãos em várias leituras .
também me leram cartas .
Os magos me fartaram.
e no entanto nunca fiquei curada.
não curada deles
seus remédios e cartas.

Foi há tempos longos.
eu nem sei se me era
tanto andar andou.
Hoje
nem doença, nem nada.
curei-me.
sabes como?!
curei-me de cansada.

mcorreia

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

o vermelho e o trigo...




No fundo da terra há sempre
Um húmus insuspeito, uma semente, uma promessa...

Talvez um parto...

Talvez um grito,
Ou uma dor por abrir...

Talvez uma tensão na hora de soltar-se...

Há sempre na noite
Um dia imprevisível, uma esperança calada...

Há sempre uma morte que se faz vida...

Há sempre o vermelho e o trigo...

Sabe-se lá quando pode explodir uma flor...



terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Espelhos



"untitled mirror" by zsofi porkolab


Persigo há muito a senda dos espelhos.
A intrigante e abismal distância
onde tudo descansa. Reinos virtuais
de nevoeiros e acordes improváveis.

Os espelhos não dormem. São atentos
ao nascimento e à morte de imortais.
Intacta guardam a memória dos que
na sua transparência se colaram.

Quem dera ao entardecer os penetrasse
o frio diamante do meu peito
e os incontáveis braços das ausências,
comovidos, rendidos, me pegassem.

Licínia Quitério, in "De pé sobre o silêncio"

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Reinvenção do mundo


by Maciej Knapa

Não quero mais um dia.
Quero um novo dia,
Repleto de surpresa e fantasia.
Anseio por novidades e mudanças,
Novas cores,
Novas vidas,
Novas esperanças.
Algumas noites deveriam ser prateadas,
Porque hão-de ser sempre negras e cerradas?
E o mar? Sempre azul cintilante!
Porque não vermelho flamejante?
Os campos deveriam amanhecer azuis algumas vezes,
E todos os anos deveriam mudar o nome dos meses.
Como seria doce pela manhã despertar,
Olhar ao alto e exclamar:"Hoje o céu está da cor da esperança,
E o tempo parou! O relógio não avança."
Mas os dias... são todos tão iguais,
Vinte e quatro horas pontuais.
Estou enfastiado desta monotonia grosseira,
Não poderiam ser vinte cinco à sexta-feira?
Contem-me mentiras novas, histórias surpreendentes.
Reinventem o mundo com imagens diferentes.
Só tenho vinte cinco anos e estou tão cansado...
Reinventem este mundo ou levem-me para outro lado!



Gonçalo Nuno Martins, in Nada em 53 vezes

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ao Porto




porque se basta a si mesmo
e é de granito
porque se ergue como um só
com um só grito
este é o Porto em que eu nasci
mas não habito
que me conforma em matriz
que eu aceito
ainda que longe e distante
do meu jeito
este é o Porto de que eu gosto
e trago ao peito
e que é invicto
e nobre e popular
sem ser perfeito
mas que é de luta e de revolta
e que se afoita
este é o berço obstinado
e aflito
Porto de preces e rabelos
e de mitos
este é o Porto terra-mãe
em que acredito.

Jorge Castro, apresentador do evento de amanhã para que estão todos convidados





terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sino


Badaladas de choro
Grito
Repique de perfídias
Ignomínias
Nem em dias, nem em horas
Nem em quartos
É nos abalos tristes que ele bate
É quando o coração da gente soa
Num parto, numa ida, num desastre
Na perca do amigo é que ele ecoa
Repica em desalinho
Ri e chora
Nem em quartos, nem em horas,
Nem em dias, nem em meses
Repica de alegrias, de saudades
Ressoa lento pelas noites
Pelas tardes
Nem em segundos, nem em horas,
Nem em anos, nem em quartos.
É nos entre tempos que ele bate.


sábado, 18 de outubro de 2008

de outono



tenho olhos para ver
os teus olhos de outono
a me falarem na distância,
teus gestos.

é sempre outono,
a nossa estação.
as horas correm entre as árvores
do lugar onde te espero.

domingo, 12 de outubro de 2008

Maldade...



Queria saber ser mau, odiar sem limites e sem clemência.
Apetecia-me usar uma faca aguçada e penetrar o peito dos inclementes que engendram crueldades e roubam a paz aos inocentes, aos puros.
Também eu já perdi a inocência.
Deixei a pureza algures numa tempestade em que me perdi um dia, distraído e confuso.

Agora, depois de provar o veneno,
Ergo a taça e brindo ao cinismo
Sou impostor, enceno,
Ofereço-te o abismo.

Mas, mesmo assim, resta-me um fragmento de lucidez.
Apesar de querer magoar, ferir, ainda possuo fome de abraços.
Por isso permaneço de olhos fixos no horizonte, onde o infinito se funde com o essencial.

António Dias da Silva in "Ant Mitos urbanos... Ou assim..."

sábado, 20 de outubro de 2007

Vida vivida




o que fazemos da nossa vida

nem a nós nos diz respeito

sentimo-la vida vivida

num esboço de destino

retorcido e contrafeito

que nos arrasta sem brilho

em contrapeso no peito

correndo como um menino

retardado na subida

em tropeções sem jeito


Carlos Peres Feio que hoje lança o seu livro "Podiam ser mais"

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Saudade





De pincel na mão

Pintei uma mulher

Em aguarelas.



Dilui-lhe todas as mágoas em tinta

E pintei-lhe uma lembrança



Nas faces sem rosto

Uns pingos de saudade

E um sorriso sem lábios.



Virgínia Pedras

Foto by Marcin Klepacki

quinta-feira, 12 de julho de 2007

3.




na areia da praia encontramos tudo
um brinquedo esquecido
pegadas de gaivotas
um adeus desenhado no coração

um bom-dia imprevisto quando estamos sós
e as espinhas dos peixes limpas pela água

o eco da voz vai com as ondas
que limpam já os passos inseguros
doutro caminho iluminado e breve
frágil no pó dos ossos incendiados

todo o fogo se consome a si próprio.


José Felix, in Antologia Poética Amante das Leituras

_____________________

Pausa. Breve. Sempre à beira de água.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Sabias?



Foto by Akif[Akan]Celebi


vivemos dentro da luz
férvida fonte

ao longe
chamamos perto
e ao perto longe

vivemos
o verso e a medida
a métrica curta
a tónica do gesto
a ave viva
ausente

sobrevoamos
vitrais
nas lânguidas
catedrais do deus
silêncio

sabemos
as lajes da morte
os ecos
dos passos idos
as frágeis
asas do tempo

mas vamos
ainda assim
de mãos nos olhos
demoradamente
jovens
até Dezembro

provavelmente
adiados ossos
um dia velhos
mas eternos
no tempo
que nos pára
não sabemos…

ao certo
só temos a demora

nada nos prende
tudo nos solta
um sopro nos guia
no belo bosque
até ao corpo
que buscamos
entre lírios
sempre

sem olhos
vemos mais dentro
por entre
as intensas
mós
o pálido trigo
a melancolia

e o moinho mói
lentamente
os nossos dias

o amor
mói-nos a nós

sabias?

aziluth

domingo, 1 de julho de 2007

Navegarei




Mostrem-me as pedras
Quero ser como elas

Soltem-me os ventos
Serei como as urzes

Libertem-me o mar
E navegarei

E tal como a pedra no mar ancorada
só minhas serão todas as estrelas
e os meus cabelos que os ventos desgrenham
terão mais sentido no oceano imenso

estas mãos
estes olhos
por todo este mar a correr-me nas veias
reaprenderei o gosto agridoce de saber amar

e talvez só me baste
este encantamento de voz de sereias
crescendo dolente nas minhas falésias
para deslaçar todas as amarras
e navegarei

Serei pedra e urze
Mas navegarei.


Jorge Castro, in Contra a Corrente

domingo, 24 de junho de 2007

sem títulos




queria amar-te
num recanto
num largo em campo aberto
num local de palavras escondidas
num mar onde se engasgassem os silêncios

amar-te sem dizeres nem segredos

amar-te sem rubores
corpo a corpo
línguas e braços
e os sexos e os sucos

amar-te sem segredos nem dizeres

prender-te num enlace forte
perder-me em cada músculo, cada prega
cada poro, cada pelo, cada membro
sugado no prazer dos nossos corpos

amar-te sem mais que cada um se sendo
animal e gente


********************************

dormiste naquele sábado
fora domingo e dormirias
mais
sábado ao meio dia
tu dormias
sorrindo
sorriso lindo
dormias e sonhavas
sorrindo
dormiste e era sábado
fora domingo e mais dormias
sábado se passou e foi domingo
e tu dormindo
dormindo
sem mais sorrir
sem mais sonhar
depois do sábado que deu em ser domingo


sei lá

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Caminhos




por vezes abandono o caminho certo
entro em atalhos paralelos
caminho sobre pedras
esfacelo dedos e o meu amor próprio
corto-me nas arestas dos excessos do percurso

por vezes perguntam-me
onde vais
e eu não sei responder
não há equivalência possível
entre os trilhos dispersos
e o caminho certo
nem tão pouco a possibilidade real
de ambos irem ter ao mesmo ponto

divergência instintiva, excerto de "liquidez"

domingo, 10 de junho de 2007

Tempo de cinza




Mãos

Digo
"as minhas mãos são água"
qundo imersas
no secular fluir deste riacho
(temerosa timidez
que se diverte,
faz bailar seixos
e os barcos de papel).

Digo
"as minhas mãos são água",
quando à noite,
fascinadas, reflectem as estrelas,
do solene dossel desce o silêncio,
e procuram, também elas, luz no mar.

Digo
"as minhas mãos são água"
pois são geladas
e nada mais encontraram
que agarrar.


Manuel Filipe, in Tempo de cinza, ed. Apenas Livros, Maio 2007

Um encontro na net e na vida real. Fico muito grata por estar incluída no grupo de amigos a quem este livro foi oferecido.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Escrito para a ausência de nós



Vilhelm Hammershoi, Óleo sobre tela

estas mãos que escrevem
os cristais da tua boca
são apenas sangue quente
a jorrar do meu corpo no
teu.e nenhuma foz é mar
suficiente para acolher
o suicídio das palavras.

de manhã. vou dizer bom
dia ao teu nome. escuta.
ainda antes da primeira
luz... nenhuma poeira na
clarabóia. o céu põe-se
numa taça de areia. vês
ao fundo todos os peixes?

sabes. os búzios falam de
ti. contam uns aos outros
todos os segredos que lêem
no imo das conchas. eu vou
no meio das algas enlaçar-
te os pés. tu tropeças. se
eu te pedir. uma só noite
branca. que dirás de mim?


Alice M. de Campos, in Antologia Poética Amante das Leituras, edium editores

quarta-feira, 30 de maio de 2007

O céu dos poetas




Do que eles juram que não viram

Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas
Lançadas ao espaço e o mundo inteiro
Inteiro, inteiro, fossem vendo p'ra
Depois voltar
P'ro rio de janeiro


Maurício Neves Corrêa