domingo, 30 de novembro de 2008

Cantos de uma paisagem antiga (IV)



by Claudio Naboni

Ciclo (e)terno

Escuta o rio
e o canto
do pássaro
no frio.
Breve será
o sono da terra
e a folha
na margem
renascerá
na pele da flor
que abre ao sol
doce de Inverno.
Assim a vida
um ciclo (e)terno.
Assim o amor.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mas que sei eu




Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

Ruy Belo

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Balada para un loco



Autores: Piazzolla/Ferrer
Intérprete: Milva

Porque sim. Porque é o tipo de música que me apetece. Quase sempre.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.



Hoje, dia 25 de Novembro, é o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres. Sendo este, infelizmente, um problema que não tem vindo a diminuir e que atinge todos os estratos sociais, não fará mal saber um pouco mais sobre o assunto. Sugiro dois sites com responsabilidades na resolução desta matéria:

CIG

APAV

Pensemos um pouco em como podemos contribuir para a eliminação deste flagelo. Não esquecer: trata-se de um crime público.

domingo, 23 de novembro de 2008

Ainda o Porto...



by vida de vidro

Afinal, o Porto, para verdadeiramente honrar o nome que tem, é, primeiro que tudo, este largo regaço aberto para o rio, mas que só do rio se vê, ou então, por estreitas bocas fechadas por muretes, pode o viajante debruçar-se para o ar livre e ter a ilusão de que todo o Porto é a Ribeira.

José Saramago

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ao Porto




porque se basta a si mesmo
e é de granito
porque se ergue como um só
com um só grito
este é o Porto em que eu nasci
mas não habito
que me conforma em matriz
que eu aceito
ainda que longe e distante
do meu jeito
este é o Porto de que eu gosto
e trago ao peito
e que é invicto
e nobre e popular
sem ser perfeito
mas que é de luta e de revolta
e que se afoita
este é o berço obstinado
e aflito
Porto de preces e rabelos
e de mitos
este é o Porto terra-mãe
em que acredito.

Jorge Castro, apresentador do evento de amanhã para que estão todos convidados





terça-feira, 18 de novembro de 2008

Melody Gardot - Worrisome Heart




Obrigada, Melga do Porto, pela sugestão musical.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Os convencidos da vida




Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.
Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força.
Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista.
Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?
(...) No corre-que-corre, o convencido da vida não é um vaidoso à toa. Ele é o vaidoso que quer extrair da sua vaidade, que nunca é gratuita, todo o rendimento possível. Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes. É tão capaz de aceitar uma condecoração como de rejeitá-la. Depende do que, na circunstância, ele julgar que lhe será mais útil.
Para quem o sabe observar, para quem tem a pachorra de lhe seguir a trajectória, o convencido da vida farta-se de cometer «gaffes». Não importa: o caminho é em frente e para cima. A pior das «gaffes», além daquelas, apenas formais, que decorrem da sua ignorância de certos sinais ou etiquetas de casta, de classe, e que o inculcam como um arrivista, um «parvenu», a pior das «gaffes» é o convencido da vida julgar-se mais hábil manobrador do que qualquer outro.
Daí que não seja tão raro como isso ver um convencido da vida fazer plof e descer, liquidado, para as profundas. Se tiver raça, pôr-se-á, imediatamente, a «refaire surface». Cá chegado, ei-lo a retomar, metamorfoseado ou não, o seu propósito de se convencer da vida - da sua, claro - para de novo ser, com toda a plenitude, o convencido da vida que, afinal... sempre foi.

Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim"

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Lila Downs




O que eu gosto de ouvir esta mulher...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sino


Badaladas de choro
Grito
Repique de perfídias
Ignomínias
Nem em dias, nem em horas
Nem em quartos
É nos abalos tristes que ele bate
É quando o coração da gente soa
Num parto, numa ida, num desastre
Na perca do amigo é que ele ecoa
Repica em desalinho
Ri e chora
Nem em quartos, nem em horas,
Nem em dias, nem em meses
Repica de alegrias, de saudades
Ressoa lento pelas noites
Pelas tardes
Nem em segundos, nem em horas,
Nem em anos, nem em quartos.
É nos entre tempos que ele bate.


segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Paula Rego - um inferno a visitar





Paula Rego, Lela playing with Gremlin



O Centro de Arte Manuel de Brito, no Palácio Anjos em Algés, expõe, até 18 Janeiro de 2009, trabalhos de Paula Rego, desde os anos 50 até à actualidade.
Paralelamente, está patente a exposição «Anos 80» que exibe obras de artistas como António Dacosta, Nadir Afonso, Júlio Pomar, Graça Morais, Menez, Nikias Skapinakis e José de Guimarães, entre outros.
A mostra funciona de terça-feira a domingo, das 11:30 às 18:30. Na última sexta-feira de cada mês as portas abrem das 11:30 às 24:00 horas.


A não perder, digo eu.

sábado, 8 de novembro de 2008

Cantos de uma paisagem antiga (III)



by Cihan Altun

Chove sobre a paisagem

Chove sobre a paisagem
é Outono outra vez.
Não sentes o arrepio que passa
na crista do vento?
É tempo de procurar abrigo
enquanto o sol ainda brilha
e as tardes trazem consigo
o manto de ouro das árvores.
Em breve será o tempo
de velar o sono da terra.
Guardamos no corpo a semente
dos dias azuis doutra era
e nos olhos que se enlaçam
será sempre Primavera.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

The Pianist

Para quem não viu ou para quem quer rever. Com atenta intensidade.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Era uma vez




“Era uma vez um rapaz texano que gostava de se meter nos copos. Em certa ocasião, conduzindo bêbado como um cacho, perdeu o controlo do seu automóvel e destruiu os caixotes de lixo da casa paterna. O pai repreendeu-o duramente, a mãe, Barbara, reconheceu que o rapaz tinha sérios problemas com o álcool e, para o ajudar a corrigir o rumo, confiaram em Deus, que é americano, e nuns milhões de dólares que o garoto perdeu estrepitosamente em péssimos negócios petrolíferos. Demonstrou que era incapaz de administrar a sua própria casa e voltou com fúria ao caminho do álcool. Bourbon, cerveja, vinho californiano, tequilla, desciam pela garganta do jovem texano até que um dia o esperado milagre se apresentou diante dele. Chamava-se Billy Graham, o maior show-man religioso da União. «Aleluia! Louvado seja Ele» gritava o jovem texano nos estádios repletos de outros alcoólicos e alienados como ele. E Deus ajudou-o, agora é Presidente dos Estados Unidos da América e um intelectual requintado, como nos recorda o seu discurso pronunciado na universidade da elite da costa Este a poucos meses de assumir o cargo: «Não tinha qualquer ideia do que devia fazer quando cheguei. Conhecia alguns que tinham um plano, mas muito em breve ficou demonstrado que nos esperavam todas as possíveis vitórias e todas as derrotas, que geralmente nos causam grandes surpresas.»Este intelectual é hoje o homem mais poderoso do mundo e os que se curvam à sua passagem querem evidentemente ser como ele.”



Luís Sepúlveda, in Uma história suja


Vamos dizer-lhe adeus. De uma vez por todas.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Esperemos...



"Uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança"
Maquiavel

segunda-feira, 3 de novembro de 2008




by Venedict Cristina

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

Bertold Brecht

sábado, 1 de novembro de 2008

Cantos de uma paisagem antiga (II)



by Bognár Tamás

Sabor

Sabes a…
rebuçado de limão
açúcar em caramelo
ou chocolate de menta?
Ou será…
sabor de água do mar
e um toque de pimenta
com claras em castelo?
Não sei…
definir no teu sabor
tudo o que me enlouquece.
Talvez saibas a amor
a pele que a minha merece.
Ou será teu paladar
o gosto que saboreio
o início que amanhece
este desejo sem freio?