terça-feira, 28 de agosto de 2007

Crepúsculo de Agosto




Dos amigos que perdi
não falo. Sei
que estamos em agosto, mês
dos remos escaldantes, sei
que há lodo sob as algas,
sob a pele. Oblíqua,
sei também, a sombra
cai sobre as oliveiras. É
tempo de içares
tuas velas, de ergueres
teus guindastes
junto ao rio. Disponíveis estão
as luzes; preparadas,
ermas estão as águas.
Preciso de arrumar a casa, rever o sistema, brunir
os móveis e o tacto.
Preciso de opor o tempo ao tempo.
O espaço ao espaço.


Albano Martins

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Douro e à volta...



Doiro

Corre, caudal sagrado,
Na dura gratidão dos homens e dos montes!
Vem de longe e vai longe a tua inquietação...
Corre, magoado,
De cachão em cachão,
A refractar olímpicos socalcos
De doçura
Quente.
E deixa na paisagem calcinada
A imagem desenhada
Dum verso de frescura
Penitente.

Miguel Torga

domingo, 26 de agosto de 2007

Yves Montand

Canção: A Paris

Aqui, a idade já se notava. Mas o charme mantinha-se. Uma das minhas paixões de "jeune fille".

sábado, 25 de agosto de 2007

A flor de lótus




Buda reuniu seus discípulos, e mostrou uma flor de lótus - símbolo da pureza, porque cresce imaculada em águas pantanosas.
- Quero que me digam algo sobre isto que tenho nas mãos - perguntou Buda.
O primeiro fez um verdadeiro tratado sobre a importância das flores.
O segundo compôs uma linda poesia sobre suas pétalas.
O terceiro inventou uma parábola usando a flor como exemplo.
Chegou a vez de Mahakashyao. Este aproximou-se de Buda, cheirou a flor, e acariciou seu rosto com uma das pétalas.
- É uma flor de lótus - disse Mahakashyao. Simples e bela.
- Você foi o único que viu o que eu tinha nas mãos - disse Buda.



Fonte: Contos e parábolas

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Da amizade



É um erro desejar ser compreendido antes de se ser elucidado por si mesmo a seus próprios olhos. É procurar prazeres na amizade, e não méritos. É qualquer coisa de mais corruptor ainda do que o amor. Venderias a tua alma por amor.
Aprende a repelir a amizade, ou melhor, o sonho da amizade. Desejar a amizade é um grande erro. A amizade deve ser uma alegria gratuita como as que a arte ou a vida oferecem. É preciso recusá-la para se ser digno de a receber: ela é da categoria da graça («Meu Deus, afastai-vos de mim...»). É dessas coisas que são dadas por acréscimo. Toda a ilusão de amizade merece ser destruída. Não é por acaso que nunca foste amado... Desejar escapar à solidão é uma cobardia. A amizade não se procura, não se imagina, não se deseja; exercita-se (é uma virtude). Abolir toda esta margem de sentimento, impura e enevoada. Schluss!
Ou melhor (pois não é necessário desbastar-se a si mesmo rigorosamente), tudo o que, na amizade, não passe por alterações efectivas deve passar por pensamentos ponderados. É absolutamente inútil privar-se da virtude inspiradora da amizade. O que deve ser severamente proibido, é sonhar com os prazeres do sentimento. É corrupção. E é tão estúpido como sonhar com a música ou com a pintura. A amizade não se deixa afastar da realidade, tal como o belo. E o milagre existe, simplesmente, no facto de que ela existe.


Simone Weil, in 'A Gravidade e a Graça'

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Corpo de bruma



Talvez me encontres hoje
entre as brumas da paisagem
água do rio que pressentes
beijando a orla da margem.
Talvez me toques hoje
no manto do nevoeiro
rocha no meio do desvio
repouso do corpo inteiro.
Talvez o sol desperte
e a luz indique o caminho
para os meus braços de bruma
fonte eterna de carinho.

Novembro 2006


Foto: S. Miguel, Açores, Lagoa das Furnas

Pour faire le portrait d'un oiseau




Peindre d'abord une cage
avec une porte ouverte
peindre ensuite
quelque chose de joli
quelque chose de simple
quelque chose de beau
quelque chose d'utile
pour l'oiseau
placer ensuite la toile contre un arbre
dans un jardin
dans un bois
ou dans une forêt
se cacher derrière l'arbre
sans rien dire
sans bouger...
Parfois l'oiseau arrive vite
mais il peut aussi mettre de longues années
avant de se décider
Ne pas se décourager
attendre
attendre s'il le faut pendant des années
la vitesse ou la lenteur de l'arrivée de l'oiseau
n'ayant aucun rapport
avec la réussite du tableau
Quand l'oiseau arrive
s'il arrive
observer le plus profond silence
attendre que l'oiseau entre dans la cage
et quand il est entré
fermer doucement la porte avec le pinceau
puis
effacer un à un tous les barreaux
en ayant soin de ne toucher aucune des plumes de l'oiseau
Faire ensuite le portrait de l'arbre
en choisissant la plus belle de ses branches
pour l'oiseau
peindre aussi le vert feuillage et la fraîcheur du vent
la poussière du soleil
et le bruit des bêtes de l'herbe dans la chaleur de l'été
et puis attendre que l'oiseau se décide à chanter
Si l'oiseau ne chante pas
C'est mauvais signe
signe que le tableau est mauvais
mais s'il chante c'est bon signe
signe que vous pouvez signer
Alors vous arrachez tout doucement
une des plumes de l'oiseau
et vous écrivez votre nom dans un coin du tableau


Jacques Prévert

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Obrigada à amiga que me enviou o link.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

A igreja




À beira da lagoa, cresceu o amor entre as pedras e as plantas, por entre sol e neblina. No silêncio da pedra, brotam plantas que só revelam a igreja a quem a procura, numa peregrinação em busca da beleza.




Foto: S. Miguel, Açores, Igreja de Nossa Senhora das Vitórias, à beira da Lagoa das Furnas

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Lord Of The Dance

A beleza da música e dança celta. O génio de Michael Flatley



Site oficial: Lord of the dance

domingo, 19 de agosto de 2007

Distância



Recordações de auréolas
no espelho do céu se envolvem
em louros de espuma
deslizando sobre facas brilhantes.
no amanhecer deste silêncio frustrante.
Camisa lavada com sabão de dor
estendida ao sol.

Água salgada atropelando
a distância entre duas vozes,
e o som de um lago vazio
se alongando no peito.

Distância entre um beijo de despedida
e um olhar orvalhado.
Tudo
o resto ficará
vertido num lenço branco.
Depois de lavado
estender-se-á ao sol...

Eduardo Pinto, poeta açoriano

Foto: S. Miguel, Açores, o mar na Ribeira Grande

sábado, 18 de agosto de 2007

Livre




É mais difícil ser livre do que puxar a uma carroça. Isto é tão evidente que receio ofender-vos. Porque puxar uma carroça é ser puxado por ela pela razão de haver ordens para puxar, ou haver carroça para ser puxada. Ou ser mesmo um passatempo passar o tempo puxando. Mas ser livre é inventar a razão de tudo sem haver absolutamente razão nenhuma para nada. É ser senhor total de si quando se é senhoreado. É darmo-nos inteiramente sem nos darmos absolutamente nada. É ser-se o mesmo, sendo-se outro. É ser-se sem se ser. Assim, pois, tudo é complicado outra vez. É mesmo possível que sofra aqui e ali de um pouco de engasgamento. Mas só a estupidez se não engasga, ó meritíssimos, na sua forma de ser quadrúpede, como vós o deveis saber.




Vergílio Ferreira, in 'Nítido Nulo'

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Breaking and entering




Falamos de assaltos. De conseguir forçar uma entrada. Filme de polícias e ladrões? Longe, muito longe disso. Filme sobre a complexidade dos sentimentos, das relações. Do nosso íntimo. De como somos divididos entre a luz e a sombra. De como amamos de formas diferentes. E de quão difícil é “tocar” o outro, sabê-lo. Entering? No way.

Filme de 2006. Anthony Minghella, realizador com créditos mais que firmados Excelentes interpretações de Jude Law e Juliette Binoche. Robin Wright Penn tem altos e baixos numa complexa personagem que exige contenção e explosão emocional. A contenção está lá (talvez até demais…). A explosão emocional falha.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Sobre o corpo da mulher...




Foto by Al Calkins, Bendover back

Todo um trabalho especial sobre as fotos de nu no feminino.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Ponta Delgada




OCEANO NOX


Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...


Antero de Quental-nasceu e morreu em Ponta Delgada. Suicidou-se num banco debaixo da âncora que aparece numa das fotos.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Let Me Fall

Performed by Le Cirque du Soleil

domingo, 12 de agosto de 2007

Torga - 100 anos




São Leonardo da Galafura

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

Miguel Torga


Foto: o Douro visto do Miradouro de S. Leonardo da Galafura

Género e Cidadania nas Imagens de História



Podemos pois afirmar que as representações estereotipadas do que é ser mulher e ser homem estão presentes (…). Consideramos que há uma associação implícita das figuras masculinas a papéis activos que se concretizam na esfera pública, através das intervenções político-militar e financeira, ligadas à tomada de decisão (…). A presença das figuras masculinas em todas as esferas traduz-se no exercício de uma diversidade de papéis, a qual pressupõe uma igual diversidade de capacidades e competências. (…) Em contrapartida, a sistemática subrepresentação das mulheres, cuja visibilidade se associa quase sempre a elementos masculinos, sugere a sua dependência bem como a ausência de autonomia como indivíduo. (…)
Nos materiais que analisámos, os rapazes podem identificar-se facilmente com o tipo de protagonismo histórico, colectivo e individual, apresentado pelas imagens, podendo aderir aos modelos de pessoa a que correspondem as personalidades históricas, pois situam-se sempre no seu grupo de pertença sexual. (…) O mesmo não se pode dizer das raparigas, face a uma história androcêntrica que secundariza as mulheres ou as silencia. Em vez do reforço da identidade enquanto colectivo feminino, as raparigas confrontam-se com modelos masculinos que actuam em áreas que não lhes estão associadas, de acordo com determinadas concepções do que é ser mulher. As raparigas são levadas a tomar como referência os modelos masculinos, bem como as suas características e atributos. (…) Esta hipótese parece ser corroborada pelas alterações do modo de vida das mulheres e dos homens. A presença das mulheres em esferas tradicionalmente entendidas como masculinas não tem sido acompanhada pela correspondente presença dos homens nas áreas consideradas mais apropriadas às mulheres.




Maria Teresa Alvarez Nunes, in "Género e Cidadania nas Imagens de História", Estudos de Manuais Escolares e Software Educativo, ed. CIG, Lisboa 2007

sábado, 11 de agosto de 2007

A raiz do orvalho




Sou agora menos eu
e os sonhos
que sonhara ter
em outros leitos despertaram

Quem me dera acontecer
essa morte
de que não se morre
e para um outro fruto
me tentar seiva ascendendo
porque perdi a audácia
do meu próprio destino
soltei ânsia
do meu próprio delírio
e agora sinto
tudo o que os outros sentem
sofro do que eles não sofrem
anoiteço na sua lonjura
e vivendo na vida
que deles desertou
ofereço o mar
que em mim se abre
à viagem mil vezes adiada

De quando em quando
me perco
na procura a raiz do orvalho
e se de mim me desencontro
foi porque de todos os homens
se tornaram todas as coisas
como se todas elas fossem
o eco as mãos
a casa dos gestos
como se todas as coisas
me olhassem
com os olhos de todos os homens

Assim me debruço
na janela do poema
escolho a minha própria neblina
e permito-me ouvir
o leve respirar dos objectos
sepultados em silêncio
e eu invento o que escrevo
escrevendo para me inventar
e tudo me adormece
porque tudo desperta
a secreta voz da infância

Amam-me demasiado
as coisas de que me lembro
e eu entrego-me
como se me furtasse
à sonolenta carícia
desse corpo que faço nascer
dos versos
a que livremente me condeno


Mia Couto

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Monty Python

Every sperm is sacred de "The Meaning of Life".

Genial.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Saudade





De pincel na mão

Pintei uma mulher

Em aguarelas.



Dilui-lhe todas as mágoas em tinta

E pintei-lhe uma lembrança



Nas faces sem rosto

Uns pingos de saudade

E um sorriso sem lábios.



Virgínia Pedras

Foto by Marcin Klepacki

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

O elogio da pedra




O mais ínfimo rasgo lembra a estação
em que os rios eram por ti
coisa já pensada

O sumo das laranjas um braço
de criança, talvez o riso do fogo ou a idade
do frio
tão fácil a agressão da água

Emanuel Botelho, poeta açoriano

Foto: S. Miguel, Açores, Mosteiros

terça-feira, 7 de agosto de 2007

A preto e branco...




Os rostos do quotidiano de uma cidade. Lisboa.

Foto by Ruip

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A divergência




As pessoas que mais admiro são aquelas que melhor divergem da minha pessoa. Claro está, só se diverge de outrem dentro do que nos é comum. Porque há quem nada tenha de comum connosco, nem sequer a própria existência e a mesma humanidade. E não esqueçamos que o espaço e o tempo são aparências por nós fabricadas para dar passo ao espírito e não lenha para nos queimarmos. Ao mesmo tempo e no mesmo espaço podem juntar-se as pessoas mais alheias entre si e como não acontece na História em tempos e espaços diferentes. A universalidade humana é tão vária que pode um satisfazer inteiramente a sua e sem que lhe passe sequer pela cabeça a de outro que satisfaça também completamente a dele.
O tempo de cada qual é o justo para si. Não é dado a ninguém a ocasião da polícia do tempo de outrem. De modo que à porta da nossa intimidade havemos de pôr a admiração por aquele que vai entrar, tanto em quanto diverge como em quanto coincide connosco. Por outras palavras: não vale mais o nosso mistério do que o de outro qualquer. Só o mistério chega inteiro ao fim.



Almada Negreiros, in 'Textos de Intervenção'

Imagem: auto-retrato de Almada Negreiros

domingo, 5 de agosto de 2007

Antero




Poeta : acre silêncio a bramir versos
mais um trago de luz e fora mudo.
Estampado em feixe de sonhos adversos
está nos impressos. Leiam-no. Contudo...

Corpo: salto mortal do tempo ao pó.
Alma: pescou-a Deus nas suas redes.
Versos: talvez...Mas que se visse só
dele ficaram os sapatos verdes.


Natália Correia, escritora açoriana

Foto: Ponta Delgada, Açores, Jardim Antero de Quental

sábado, 4 de agosto de 2007

O chá




Five o'clock tear

Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p'ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora

Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la

E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito

E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos

E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes

Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada

Emanuel Félix, poeta açoriano

Foto: S. Miguel, Açores, plantações de chá da Gorreana

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Nascido do sonho de criar o paraíso




Fotos: S. Miguel, Açores, Parque Terra Nostra

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Este povo da ilha




Este o povo que nasceu no mar. Veio-lhe o sangue
do sal. Suas veias boiaram outrora
entre cabeleiras de algas e fungos de basalto.
Abriu-se-lhe a boca no remoto esquecimento
dos búzios. Memória são as conchas desertas
o calhau rolado arenoso silêncio sobre rocha.

Gerado talvez entre o grito enfermo das baleias
e o rasto dos navios. Pois este o povo
se (re)conhece entre areia e mar
no preciso instante em que a pedra
e o corpo se tocam e amam
a água

E por isso os peixes
nos atravessam os olhos
a nado

Viajam entre nós e a certeza
do corpo.


João de Melo, escritor açoriano

Foto: S. Miguel, Açores, Vila Franca do Campo

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

O apelo do mar




“De longe vem o apelo do mar e é tudo subitamente tão belo, como se tivesse de partir ou acabasse de chegar”

Emanuel Félix, poeta açoriano

Foto: S. Miguel, Açores, Miradouro da Ponta da Madrugada