Tempo de cinza
Mãos
Digo
"as minhas mãos são água"
qundo imersas
no secular fluir deste riacho
(temerosa timidez
que se diverte,
faz bailar seixos
e os barcos de papel).
Digo
"as minhas mãos são água",
quando à noite,
fascinadas, reflectem as estrelas,
do solene dossel desce o silêncio,
e procuram, também elas, luz no mar.
Digo
"as minhas mãos são água"
pois são geladas
e nada mais encontraram
que agarrar.
Manuel Filipe, in Tempo de cinza, ed. Apenas Livros, Maio 2007
Um encontro na net e na vida real. Fico muito grata por estar incluída no grupo de amigos a quem este livro foi oferecido.