quinta-feira, 7 de junho de 2007

Escrito para a ausência de nós



Vilhelm Hammershoi, Óleo sobre tela

estas mãos que escrevem
os cristais da tua boca
são apenas sangue quente
a jorrar do meu corpo no
teu.e nenhuma foz é mar
suficiente para acolher
o suicídio das palavras.

de manhã. vou dizer bom
dia ao teu nome. escuta.
ainda antes da primeira
luz... nenhuma poeira na
clarabóia. o céu põe-se
numa taça de areia. vês
ao fundo todos os peixes?

sabes. os búzios falam de
ti. contam uns aos outros
todos os segredos que lêem
no imo das conchas. eu vou
no meio das algas enlaçar-
te os pés. tu tropeças. se
eu te pedir. uma só noite
branca. que dirás de mim?


Alice M. de Campos, in Antologia Poética Amante das Leituras, edium editores