quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Este povo da ilha




Este o povo que nasceu no mar. Veio-lhe o sangue
do sal. Suas veias boiaram outrora
entre cabeleiras de algas e fungos de basalto.
Abriu-se-lhe a boca no remoto esquecimento
dos búzios. Memória são as conchas desertas
o calhau rolado arenoso silêncio sobre rocha.

Gerado talvez entre o grito enfermo das baleias
e o rasto dos navios. Pois este o povo
se (re)conhece entre areia e mar
no preciso instante em que a pedra
e o corpo se tocam e amam
a água

E por isso os peixes
nos atravessam os olhos
a nado

Viajam entre nós e a certeza
do corpo.


João de Melo, escritor açoriano

Foto: S. Miguel, Açores, Vila Franca do Campo