Navegarei
Mostrem-me as pedras
Quero ser como elas
Soltem-me os ventos
Serei como as urzes
Libertem-me o mar
E navegarei
E tal como a pedra no mar ancorada
só minhas serão todas as estrelas
e os meus cabelos que os ventos desgrenham
terão mais sentido no oceano imenso
estas mãos
estes olhos
por todo este mar a correr-me nas veias
reaprenderei o gosto agridoce de saber amar
e talvez só me baste
este encantamento de voz de sereias
crescendo dolente nas minhas falésias
para deslaçar todas as amarras
e navegarei
Serei pedra e urze
Mas navegarei.
Jorge Castro, in Contra a Corrente